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      Declaramos oficialmente que perdemos o cabaço. Brincadeirinha, HAHAHAHHA, ou não. E é com grande prazer que o nosso primeiro papo sem vergonha é com ele, que está por trás do blog mais caralhudo de todos, O CARALHO DO ROCK. O nome dele é Fábio Justino, tem 30 amos e é de Santo André, SP. Batemos um papo com ele sobre queerrock, atitude e sexualidade, não se enganem, mesmo tendo essa cara de mau, o cara é super gente boa, confere só. 

1 - Existe diferença entre o rock feito pra o público gay e o feito para o público hétero?

 

 

FÁBIO JUSTINO:  Não. Quem gosta de rock, gosta do som e da atitude. Dependendo de como a banda direcionar a temática das letras, a música pode até desagradar um grupo de cabeça mais fechada, mais limitado, mas essas são pessoas que terão preconceito com várias coisas na vida. Conheço bandas que abordam a diversidade sexual nas letras e conseguem, pelo tipo de som, conquistar tanto o público hétero quanto o gay. É até comum ouvirmos de bandas queers que elas têm um público hétero maior que o gay. Claro que, numa dimensão comercialmente mais ampla, percebe-se que as letras ambíguas sofrem menos resistência, mas a qualidade do som ainda é capaz de unir as diferenças.

 

 

2 - Quem era você, musical e sexualmente falando, durante a sua pré-adolescência?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Eu tinha pouca informação musical na época, não conhecia muita coisa. Eu cresci ouvindo muito rock nacional, era viciado em Raul Seixas por conta dos vinis que tinha em casa, e lá pelos 12 anos comecei a viciar em Legião Urbana. De rock internacional, curtia um pouco o metal radiofônico que rolava, como Skid Row e Guns and Roses. Nesse tempo também descobri o Metallica, e me apaixonei pelo James. Mas eu não me considerava roqueiro, porque ouvia muitas outras coisas, eu era influenciado pela TV, pelo rádio. Era um tempo sem internet, rs.

Sexualmente... bem, eu era virgem e cheio de desejos. Pirava nos moleques da escola, e qualquer nudez masculina que chegava até mim era motivo de punheta por semanas, rs. Eram outros tempos.

 

 

3 - Como o queercore entrou na sua vida?

 

 

FÁBIO JUSTINO: A partir dos 15 anos, comecei a frequentar em SP uma festa chamada Grind, que era de rock para o público gay. Lá eles começaram a fazer uma publicação chamada GrindZine, com a qual depois contribuí algumas vezes, e que divulgava diversas iniciativas simpatizantes e ativistas na música. Por ali que ouvi falar pela primeira vez em queercore. Era 1998/99.

 

 

4 - Quais eram os seus maiores medos na adolescência quando o assunto era sexualidade?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Não conseguir viver o desejo que sentia, não saber como vivê-lo. Era tudo intenso e angustiante, os outros já começando a ficar, namorar, e eu não. Depois que comecei a vivenciar a minha sexualidade, os medos sobre isso diminuíram. Nunca senti culpas nem nada parecido.

 

 

 5- Uma vez eu ouvi um cara dizer que os gays que adotam essa atitude mais rebelde e um visual mais agressivo no queer rock, fazem isso apenas para fugirem do preconceito que sofrem no rock, os gays mais afeminados. Qual a sua opinião sobre isso? Realmente os gays nesse perfil sofrem menos com a rejeição?

 


 

FÁBIO JUSTINO: Acho que o visual tem mais a ver com uma identificação estética, artística, com uma “filosofia de vida”. Não tem a ver com se adequar a algo para fugir do preconceito. Talvez isso seja uma visão de quem é de fora do rock e acha que os gays são padronizados por natureza, mas não são. E preconceito existirá a partir do momento que o cara assume sua sexualidade, ele sofrerá isso com o visual que tiver. Gente preconceituosa não tem critérios.

 

 

6- O queercore é um assunto recorrente no seu blog, O Caralho do Rock. Você se considera um representante do movimento no mundo virtual? Falando nisso, como está o movimento queercore nacional atualmente?

 

 

 

FÁBIO JUSTINO: Um representante eu não sei, porque apenas falo, divulgo o assunto. Eu acredito no queercore, gosto, promovo da maneira que posso, acredito na diversidade que ele representa para os próprios gays, porque há muitos que ainda hoje se sentem deslocados por não se adaptarem com outras propostas e acham que não existirão iguais que curtirão as mesmas coisas que eles. Sabe, às vezes recebo mensagens de gente que adorou encontrar o blog porque até então não sabia como encontrar gays que curtissem rock. Pode parecer bobagem, por ser apenas um estilo de música, mas para muitos não é, para muitos o rock não é apenas um som, mas um modo de encarar a vida. Eu adoraria que a cena fosse maior, e mais divulgada, pois alcançaria outros tantos que possam ainda se sentir deslocados com seus gostos, opiniões, maneira de ser, e faço a minha pequena parte. Mas eu não tenho banda, não atuo musicalmente, então não sei se “representante” é uma boa palavra. Acho que estou apenas na plateia.

A cena queercore sempre foi minúscula e independente e atualmente a nossa melhor banda ativa que conheço no estilo é a curitibana Teu Pai Já Sabe?, formada por caras que estão há tempos por aí fazendo um som e tentando mudar o mundo. Acho que eles são quem melhor representa o que a gente chama de queercore. No último ano, rolou em SP o Queer & Queens Festival, com bandas com integrantes gays. Iniciativas assim (antigamente tinha o Queer Fest) são bem legais e podem estimular o surgimento de outros grupos, novas propostas. Pena que é difícil rolar... Falta apoio, falta estrutura. Vejo também um pessoal de outros estilos surgindo e com uma postura divertida, ganhando até um certo espaço, entrando nos clubes, na TV, fazendo sucesso na internet, como a banda Uó. Só o fato de haver uma trans nessa banda já é bastante coisa.

 

 

7 - Muito se fala sobre a Parada Gay no Brasil. Pra você até que ponto a Parada Gay pode ser vista de forma positiva na luta pelos direitos da população gay? A Parada Gay deveria mudar em algum aspecto?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Eu acredito na Parada, acho que é uma festa bacana, uma boa oportunidade para sair às ruas, celebrar a autoestima civil, e ainda cobrar por mais direitos. Eu sempre percebo que quem não acredita na Parada são as pessoas, então eu acho que quem tem que mudar é elas. Se elas acham o evento vulgar, basta então não ser vulgar, não ficar pelado, não transar em público, não se comportar como se estivesse no carnaval. É uma festa de celebração da cidadania e da diversidade, não é um protesto, mas é um evento político, não tem jeito. E as pessoas ainda são muito moralistas, levam a sério certos limites... A organização parece já ter entendido isso e age para melhorar a qualidade da festa. De concreto, então, sugiro apenas  que mude o tipo de música.

 

 

8 - E a população do movimento queercore participa da Parada Gay?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Sim. Estão espalhados no meio da multidão. Vejo muitos organizados, inclusive. Gente do punk, do hardcore, que são as vertentes do rock mais simpatizantes. Curioso é que algumas pessoas de dentro da Parada têm medo deles e até os discriminam pelo visual. Uma pena, mas gays também discriminam.

 

 

9. Quais as músicas você colocaria em uma playlist de cinco sons para ouvir durante o sexo?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Closer, do Nine Inch Nails, é canção básica para o momento e boa para começar. Não é exclusivamente rock, mas a letra é ideal. Eu acrescentaria ainda Bück Dich, do Rammstein, pra dar uma estimulada nas estocadas; Angry Inch, a versão do Type O Negative, pra acelerar o ritmo; Scream, do Avenged Sevenfold, só pra eu imaginar o M. Shadows junto na cama, cantando que vai me pegar; e This Love, do Pantera, pra dar uma relaxada: “I'd kill myself for you, I'd kill you for myself”.

 

 

10. Quem é o cara mais gostoso do rock n’ roll?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Phil Anselmo.

 

 

11. Se pudesse transar agora com algum famoso do rock n’ roll, quem seria?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Phil Anselmo.

 

 

12. É possível fazer rock sem sexo e sem drogas?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Sem sexo não dá pra fazer quase nada nessa vida. Sem drogas, bem, há controvérsias, porque pelo menos uma cervejinha, né? Mas dá sim. Tem gente que faz, tem um pessoal no hardcore que não usa drogas.

 

 

13. Pra terminar eu gostaria de agradecer pela entrevista e perguntar pra você: o sexo tem regras?

 

 

FÁBIO JUSTINO: Agradeço eu o convite. A consensualidade é a única regra. De resto, é quase como o Tim Maia canta: vale tudo, incluindo homem com homem e mulher com mulher.

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